Introdução à Teoria da Imagem
O conceito de imagem, parecendo à uma primeira abordagem de simples definição revela-se, após um estudo mais aprofundado, como de difícil precisão. Desde os primórdios da história do conhecimento que filósofos e pensadores se debruçam sobre a complexa relação que une imagem e realidade, bem como sobre as respectivas definições. Já no livro sexto da República Platão se debruça sobre o problema, definindo imagem como “... primeiramente [as] sombras depois [os] reflexos que se vêem nas águas ou na superfície dos corpos opacos, polidos e brilhantes, e a todas as representações semelhantes” Mais tarde, a retórica medieval define imagem como “aliquid stat pro aliquo” algo que está em lugar de uma outra coisa, apontando já para algo que pode ser fabricado. No entanto, qualquer que sejam as posições teóricas adoptadas, parece incontornável que se entende por imagem algo utilizado para representar uma outra coisa, na sua ausência, existindo em qualquer imagem três dados incontornáveis: uma selecção da realidade (que em casos-limite pode passar por excluir qualquer representação da realidade – veja-se a pintura não-figurativa), uma selacção de elementos representativos, uma estruturação interna que organiza os referidos elementos. Da relação complexa que une imagem e realidade lhe advêm o seu carácter quase mágico que lhe permite simultanemanete represemtar um objecto e sua ausência, e que a leva a ser encarada –sobretudo quando o objecto sobre o qual se debruça é a representação humana – com notáveis reticências pela grande maioria das religiões. De um ponto de vista pedagógico, também durante longo tempo foi a imagem alvo de grande desconfiança pois, “se é imprópria para produzir argumentação, a imagem é porém notável para intensificar o ethos e o pathos.”
A classificação das imagens, sem a qual nenhuma operação de análise pode ser efectuada, pode ser feita a partir de diversas perspectivas.. A primeira grande divisão estabelece-se precisamente entre imagens naturais – entendendo com tais as que são produzidas sem intervenção humana (os reflexos e sombras de que fala Platão) –e imagens articiais ou fabricadas – as que exigem essa intervenção para que possam surgir. Deixando de parte todas as imagens naturais, por mais interessante que o seu estudo se possa revelar, ocupar-nos-emos aqui apenas das imagens fabricadas. No que respeita às imagens fabricadas cinco grandes oposições podem ser estabelecidas ab initio:
Durante largo tempo foi crença comum que a presença de certos parâmetros invalidava alguns outros (p. e.; que era impossível produzir imagens tri-dimensionais móveis), mas os modernos avanços das técnicas demonstram que para uma completa análise do objecto visual é necessário analisar em simultâneo os quatro parâmetros acima mencionados embora, por comodidade, se limite frequentemente a análise a apenas um ou dois dentre eles, consoante os interessses específicos do analista. Tal processo, se bem que frequentemente justificável de um ponto de vista pragmático, não deixa de apresentar, de um ponto de vista teórico, as desvantagens da imcompletude.
Os modernos teóricos do estudo da imagem costumam, conforme a escola teórica em que se situam, abordar a imagem a partir de dois pontos de vista distintos: um a que se pode chamar textual, de tradição essencialmente americana, entende a imagem como um texto, possuidor das mesmas características da produção linguística, tratando então o estudo da imagem de descobrir os seus “constituintes mínimos”, os equivalentes pictóricos dos componentes gramaticais da frase: Típico desta escola, é a abordagem que postula que qualquer imagem pode ser analisada através de um conjunto de treze elementos fundamentais distribuidos por três categorias “gramaticais”: os elementos morfológicos (ponto, linha, plano, textura, cor e forma), os elemntos dinâmnicos (movimento, tensão e ritmo) e os elementos escalares (dimensão, formato escala e proporção), cuja análise detalhada não cabe numa exposição deste tipo; um outro ponte de vista, a que habitualmente se designa como semiótico, mais habitualmente ligado à tradição europeia, considera a imagem enquanto signo, tratando a sua análise de descobrir as suas relações quer com o “objecto” que representa quer com os outros sistemas de signos utilizados em sociedade, radicando aí as razões da sua significação. O método típico desta segunda escola consiste em tentar estabelecer um paralelo entre dois tipos de planoss – por um lado entre o plano de expressão da imagem (o que ela mostra) e o seu plano de contéudo ( o que ela significa), - por outro entre o plano do significante (a realidade exterior a que ela faz referência) e o plano do significado (o conteúdo material da imagem).
Dito de outra forma, existira um paralelismo entre o contéudo físico da imagem e o seu significado e entre esse mesmo contéudo físico e a sua semelhança/diferença com a realidade exterior para que remete. Independentemente do ponto de vista adoptado, a análise de uma imagem deverá ter em vista diversos pontos distintos entre os quais os seguintes – mencionados sem qualquer preocupação de hieraquização – são essenciais:
Grau | Nível de Realidade | Função |
Imagem Natural | Reconhecimento | |
Modelo tridimensional à escala Imagens Estereoscópicas e Hologramas Fotografia colorida Fotografia a Preto e Branco |
Descrição | |
Pintura Realista Representação Figurativa Não-Realista |
Artística | |
Pictogramas Esquemas Sinais Arbitrários | Informação | |
Representação Não-Figurativa | Especulação |
notemos que estes níveis de análise não se excluem mutuamente antes se interpenetarm para uma compreensão o mais perfeita possível do funcionamento da imagem.
Diga-se a terminar, provisoriamente, que os elementos acima referidos não servem apenas enquanto discodificadores académicos de imagens propostas, mas devem antes ser uma base de reflexão da qual partir ao elaborar imagens, mormente quando elas têm uma finalidade tão definida quanto a didáctica e um público tão difícil e particular como o que é constituído por crianças de idades compreendidas entre os 6 os 10 anos.
1)Platão – A República, Lisboa, Europa-América, s.d., p. 225
2)Reboul, Olivier (1991) – Introdução à Retórica, São Paulo, Martins Fontes, 1998, p. 83
3) Para uma análise deste tipo mais completa, por exemplo, Villefane, Justo – Introduccíon a la Teoria da la Imagem, Madrid, Piramide, 1988
4) Pode encontrar-se uma aboragem deste tipo em: Joly, Martine (1994) – Introdução à Análise da Imagem, Lisboa, Ed. 70, 1999
5) Ver a escala completa em anexo .
Grau | Nível de Realidade | Critério | Exemplo |
1 | Imagem natural | Restabelece todas as propriedade do objecto. Identidade | Qualquer percepção “natural” da realidade |
Modelo tridimensional à escala | Restabelece todas as propriedades do objecto. Identificação mas não identidade | Estatuária naturalista. “Kits” | |
Imagens estereoscópicas | Restabelecem as formas e dimensõesdos objectos emissores de raediações presentes no espaço | Hologramas | |
Fotografia colorida | O grau de definição da imagem está equiparado ao poder de resolução de um olho médio | Fotografia de Reportagem | |
Fotografia a preto e branco | O grau de definição da imagem está equiparado ao poder de resolução de um olho médio | Fotografia de Reportagem | |
6 | Pintura realista | Restabelece razoavelemente as relações espaciais num espaço bidimensiona | Las Meninas de Velasquez |
7 | Representação figurativa não realista | Ainda se produz identificação mas as relações espaciais estão alteradas |
Guernica de Picasso Caricaturas |
8 | Pictogramas | Todas as características sensíveis, excepto a forma estão alteradas | Silhuetas |
9 | Esquemas motivados | Abstração de todas as caracteristicas sensíveis. Apenas se restabelecem as relações orgânicas. | Organigramas. Planos |
10 | Sinais arbitrários | Não representam características sensíveis. As relações de dependência entre os elementos não seguem nenhum critério “natural” | Sinais de trânsito |
11 | Representação não figurativa | Fazem abstração de todas as qualidades sensíveis e relacionais | uma obra de Miró |