Artigo de opinião
Publicado em 11/11/1997
(Original em PDF) |
A gestão do tráfego nas intersecções de
arruamentos (cruzamentos e entroncamentos) pode ocorrer de várias
formas. Desde a simples regra de "prioridade à direita" ou ainda pela
utilização de sinalização de código que estabeleça outras prioridades;
ainda pelo agente de trânsito que, quer de forma sistemática, quer
ocasionalmente, procura regular conflitos localizados; até aos cada vêz
mais frequentes sistemas de semáforos; e finalmente as rotundas, de
sentido giratório prioritário, sobre as quais pretendo aqui introduzir
comentários quanto à sua oportunidade de utilização nomeadamente em meio
urbano. A decisão pela escolha de algum destes métodos estará, no
entanto, condicionada por factores como a política de transportes
(transporte individual, colectivo, peões, estacionamento, etc.),
técnico-económicos, características do tráfego, a segurança, o ambiente,
o contexto urbanístico do local, entre outros, sendo necessário que
previamente se ajuíze da importância destes factores para a escolha
correcta da solução mais conveniente.
As rotundas que, num período inicial a partir dos anos 30, nomeadamente
em Inglaterra, começaram por ser estudadas para guiar a circulação no
sentido da melhoria da segurança rodoviária, vieram posteriormente sendo
concebidas com o seu tamanho aumentado em virtude do progressivo
crescimento dos volumes de circulação pois ficava, assim, também maior a
distância de entrecruzamento dos ramos de entrada e saída consecutivos
sobre o anel de sentido giratório, limitando-se os riscos de
autobloqueamento motivados pela prioridade ao tráfego entrante no mesmo.
Para resolver de vez este problema, engenheiros ingleses efectuaram
experiências desde os anos 50 baseadas na inversão das prioridades
tendo-se passado a atribuir a prioridade ao tráfego circulando na
rotunda, por desclassificação de todas as vias de entrada. Este
princípio de funcionamento passou mesmo a integrar as normas ofíciais de
diversos países da Europa tendo as rotundas observado uma forte
expansão, nomeadamente a partir dos anos 80, já que se permitia outra
flexibilidade de organização dos cruzamentos em virtude da substancial
redução do espaço necessário para a sua implantação ou reconversão. Já
na presente década foi a vez de em Portugal se começar a aderir a este
tipo de solução, que observamos cada vez com mais frequência
nomeadamente nas cidades médias, tendo inclusivamente ficado consignado
em recente revisão do Código da Estrada o princípio da inversão das
prioridades (cedência da passagem por quem entre na rotunda).
A procura de uma meIhor qualidade de vida e da melhoria da coabitação
entre os utilizadores do espaço público viário e das actividades
vizinhas deverá conduzir a soluções que permitam uma moderação das
velocidades do tráfego motorizado o que será naturalmente conseguido
pela forma de funcionamento e modo de implantação das rotundas. As
rotundas não estão somente "na moda" como equipamento viário de gestão e
moderação da circulação. Poderão ainda ser encaradas como elemento de
valorização dos espaços públicos urbanos conferindo-lhe uma certa
"imagem de marca" por oposição à "imagem banal" que um cruzamento de
tipo convencional, com ou sem semáforos, oferece.
Nos estudos de concepcão de sistemas deste tipo deverão ter-se em conta
os mais variados contextos de implantação - entrada de localidade,
centro urbano, polo residencial ou industrial, e até mesmo meio rural -
podendo o seu diâmetro exterior variar entre 15 metros (mini-rotundas) e
150 metros ou mais sendo que, nos casos correntes, não é necessário
ultrapassar um diâmetro exterior de 35 metros.
Através de métodos de simulação em gabinete ou de ensaio prévio no local
poderá prever-se a capacidade de uma rotunda sendo certo que, em face
das baixas velocidades praticadas e da simplificação dos pontos de
conflito, essa capacidade é, em geral, superior à permitida pelo mesmo
cruzamento regulado por semáforos ou por perda de prioridade, assim como
são mais reduzidos os tempos de espera.
Dado que todos os ramos de entrada numa rotunda terão o mesmo nível de
prioridade não será possível atender a certas estratégias de gestão da
circulação como, por exempio, a limitação dos fluxos de entrada nos
centros urbanos em horas de ponta, a prioridade aos transportes
colectivos, o encorajamento ou a penalização de certos itinerários,
etc., questões que habitualmente se resolvem com recurso à sinalização
luminosa moderna ou dita "inteligente", constituindo-se, assim, algumas
limitações à utilização das rotundas mas que em cidades como Bragança
não serão, em geral, factores condicionantes.
Outras vantagens da utilização de rotundas poderiam ser aqui referidas,
o que farei em próximo artigo a propósito de alguns casos existentes em
Bragança.
|