Artigo de opinião
Publicado em 01/12/1998
(Original em PDF) |
Sobre o tema que novamente me traz aqui, poderá pôr-se uma grande questão que é
a de se saber se a metodologia que a Câmara vem delineando, para a
concretização de projectos urbanísticos determinantes para o desenvolvimento da
cidade, será a mais adequada. Nota-se, com efeito, uma evidente falta de
reflexão organizada sobre a cidade que queremos. Por isso, é oportuno encarar
outras formas de actuação conducentes ao seu correcto planeamento urbano,
incluindo-se a promoção da participação activa dos cidadãos como, aliás, deveria
ser apanágio de qualquer gestão democrática e aberta. Parece-me que nada tem sido
feito neste sentido, continuando a decidir-se casuísticamente sobre as
características e localização das diversas infraestruturas e equipamentos
urbanos fora de uma perspectiva global de ordenamento urbanístico. A situação
parece-me ainda mais grave no caso de uma cidade como Braganca, com enormes
possibilidades de valorização e de expansão do seu núcleo central, dada a
existência de consideráveis espaços vazios, mas também com naturais
constrangimentos, que só com o adequado planeamento global se poderão
ultrapassar.
Assim, não se procedendo com um mínimo de metodologia, dá-se lugar ao banal
confronto de ideias sem qualquer quadro de referência, criando-se até a
percepcão errada nos cidadãos de que o planeamento será inútil. Tem-se
especulado sobre a localização dos futuros Paços do Concelho, do novo Mercado,
da definição das características e localização da Central de Camionagem, do
destino a dar à antiga Escola Augusto Moreno. Lançam-se concursos de ideias sem
a adaquada sustentação de planeamento. A falta de definição de uma adequada
estratégia de circulação e transportes também tem motivado equívocos por parte
dos autarcas levando a decisões erradas, por exemplo, no campo da gestão do
tráfego, a avaliar pelo exemplo da opção pela sinalização luminosa na Av. João
da Cruz. Esta opção está, aliás, em contradição com o que veio a público
recentemente em suplementos jornalísticos, onde se prevê uma grande remodelacão
desta avenida a breve prazo. Está em gestação um projecto de Urbanismo Comercial
que, julgo, não terá resultado de uma discussão séria sobre os impactos no meio
urbano exterior à zona abrangida.
Ora, só recorrendo aos instrumentos de planeamento adequados, é que se pode
verdadeiramente proceder à correcta integração das diversas intervenções que
estão em perspectiva. Com esta forma de actuação vai suceder que, quando se
quiserem elaborar esses planos, estes já de pouco valerão ou serão então estudos
destinados a corrigir erros existentes. Não me parece que a generalidade das
intervenções previstas sejam de carácter urgente para a cidade, dada a
inexistência em Bragança de carências particulares que essas intervenções
viessem suprir. Mas, considerando a eventual urgência na programação de algumas
delas, nomeadamente tendo em vista as candidaturas ao novo Quadro Comunitário de
Apoio, deveria a Câmara encarar um quadro metodológico de recurso devidamente
articulado com o desenvolvimento do Plano de Urbanização, cuja elaboração já
tarda.
Existem, desde há alguns anos, instrumentos de planeamento devidamente
homologados, o Plano Estratégico e o Plano Director Municipal, mas pouca
importância lhes tem sido dada, nomeadamente ao nível do que representam como
documentos precursores dos subsequentes planos urbanísticos que seriam o Plano de
Urbanização e os Planos de Pormenor. Confirma-se, talvez, a ideia de que são
elaborados por obrigação legal com a simples finalidade de obtenção dos fundos
comunitários.
É, para mim, claro que Bragança poderá observar, nos próximo anos, um certo
crescimento demográfico acompanhado da necessária execução de diversas infraestruturas e equipamentos colectivos, por forma a
integrar a rede de cidades médias.
Aliás, tudo indica que só será possível combater-se a desertificação global
destas regiões do interior se, entre outras acções, forem criadas condições de
desenvolvimento sustentável dos seus principais aglomerados urbanos, dadas ainda
as baixas taxas de urbanização aqui existentes (pouco mais de 20% de cidadãos a
viver nos aglomerados urbanos, contra cerca de 70% nas regiões do litoral). O
próprio "Plano Estratégico da Cidade de Bragança" veio dar consistência a esta
ideia, mas será necessário dar-lhe o adequado apoio, nomeadamente pela
intervenção do Gabinete da Cidade aí previsto, se é que existe.
Julgo, finalmente, que ainda se está a tempo de "parar para pensar" e discutir
os princípios orientadores e a metodologia a adoptar no futuro, sob pena de se
virem a criar graves e irreversíveis situações de desenvolvimento urbanístico
inadequado.
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