Avaliação da Condição Corporal de Ovinos
Introdução
As ovelhas dispõem de um reservatório de nutrientes nos seus tecidos corporais (músculo, gordura e osso), que podem mobilizar em períodos de deficiência alimentar ou em períodos de elevadas exigências. Uma técnica simples, para estimar as reservas corporais das ovelhas, dá ao produtor a informação necessária para ajustar a alimentação do rebanho em função das necessidades (manutenção e produção), da disponibilidade de alimento e das suas reservas corporais (Bibe et al., 1987).
O nível de reservas corporais, em especial nos períodos chave do ciclo de produção (gestação, cobrição e lactação), condiciona a capacidade reprodutiva e produtiva das fêmeas, bem como o crescimento dos cordeiros como mostrou Atti et al. (1995) num trabalho com ovelhas de raça Barbarine.
A Condição Corporal (CC) é avaliada atráves da palpação da região lombar, apreciando o desenvolvimento do músculo e da gordura subcutânea, bem como através da proeminência das apófises espinhosas e transversas das vértebras lombares (Jefferies, 1961; Russel et al., 1969). A técnica de avaliação da CC foi desenvolvida por Jefferies (1961) como uma escala de avaliação de 0 a 5, com intervalos de 1 ponto. Alguns anos depois, Russel et al. (1969) modificaram a escala de Jefferies (1961), extendendo-a para intervalos de 0,5 e 0,25 pontos. A técnica de avaliação da CC é um método expedito - barato e fácil de aprender - para estimar o estado nutricional das ovelhas, nomeadamente sobre as reservas de energia dos animais, tal como mostraram Teixeira et al. (1989) num trabalho com ovelhas de raça Aragonsesa.
A avaliação da CC nos pontos chave do ciclo de produção fornece aos produtores informação determinante para a tomada de decisões de maneio do rebanho. Tratando-se de um procedimento fácil e rápido, pelo que cerca de 30 minutos são suficientes para obter uma média da CC do rebanho.
Condição corporal e desempenho das ovelhas
As ovelhas muito magras ou muito gordas, por motivos diferentes, vêm a sua capacidade reproductiva afectada negativamente, como mostraram Torre et al. (1992) num trabalho com a raça Ripollesa. Por outro lado, a baixa ingestão alimentar reduz a taxa de ovulação (Smith, 1980) e a suplementação com alimentos concentrados (energéticos e proteicos) aumenta a taxa de ovulação (Torre et al., 1992), mesmo em ovelhas com CC baixa (OCallaghan et al., 2000). Assim, a divisão em lotes, de acordo com o estádio fisiológico e com a CC das ovelhas, permite a adequação do maneio alimentar às necessidades dos grupos de ovelhas.
Condição Corporal | Fertilidade (%) | Prolificidade (%) |
---|---|---|
Inferior a 2,75 | 92,0 | 155 |
2,75-3,00 | 93,0 | 264 |
3,25-3,50 | 95,0 | 182 |
Superior a 3,50 | 95,1 | 159 |
Antes da época de cobrição, a suplementação energética das ovelhas com CC entre \(2,0\) e \(2,5\), técnica de maneio designada por flushing, melhora a fertilidade e a taxa de ovulação. As ovelhas respondem melhor ao flushing quando se encontram com CC entre \(2,5\) e \(3,5\) (Henderson and Robinson, 1988). O flushing deve ter início quatro semanas antes da cobrição e deve estender-se até três semanas após a cobrição, desta forma será possível minimizar a mortalidade embrionária, maximizando as taxas de fertilidade e de prolificidade do rebanho. Já nas ovelhas consideradas gordas, com nota de \(CC \geq 4,0\), a restrição alimentar é a ferramenta necessária para que as ovelhas percam CC.
Condição corporal | Produção de leite (ml/dia) |
---|---|
3,17 | Inferior a 200 |
3,00 | Entre 200 e 250 |
2,78 | Superior a 250 |
Procedimento de avaliação
A avaliação da CC é efectuda pela palpação da região lombar, avaliando o revestimento de gordura subcutânea e o desenvolvimento (preenchimento) do tecido muscular entre as apófises espinhosas e transversas desta região. A pontuação das ovelhas é efectuada em em dois passos. No primeiro, efectuamos uma avaliação geral do animal por apreciação visual. No segundo, efectua-se a palpação da região lombar da ovelha, tendo especial atenção às apófises transversas e espinhosas das vértebras lombares. Com a palpação devemos avaliar o desenvolvimento da gordura subcutânea e do tecido múscular da região lombar. A nota de CC é atribuída numa escala de 1 (muito magra) a 5 (muito gorda) pontos, devendo obedecer aos passos descritos na Figura abaixo.
Figura 1: Passos para a atribuição da nota de CC.
Passo | Descrição | Ilustração |
---|---|---|
\(1\) | Avaliação da proeminência das apófises espinhosas: Com a ponta dos dedos, apreciar o grau de proeminência das apófises espinhosas. | |
\(2\) | Avaliação da proeminência das apófises transversas: Com a mão estendida e pressionando com os dedos, apreciar a proeminência das apófises transversas e o grau de cobertura das mesmas, pela facilidade com a qual os dedos podem penetrar debaixo das apófises transversas Avaliar o desenvolvimento do músculo e da gordura subcutânea sobre as apófises transversas. | |
\(3\) | Avaliação do desenvolvimento do músculo e da gordura subcutânea Com a mão em forma de pinça, apreciar o desenvolvimento do músculo e da gordura subcutânea: côncavo, plano ou convexo. |
Escala de avaliação
Tal como dito anteriormente, a escala de avaliação da CC varia de 1 (ovelha muito magra) a 5 (ovelha muito gorda), quando os operadores são experientes e bem treinados a CC pode ser atribuída em intervalos de \(\frac{1}{4}\) de ponto (\(0,25\)). A nota de \(CC=1\) corresponde a uma ovelha extremamente magra, desprovida de qualquer deposição de gordura subcutânea; e a nota a de \(CC=5\) corresponde a uma ovelha extremamente gorda.
Figura 2: Uma seção transversal da região lombar mostrando a cobertura de gordura subcutânea e o desenvolvimento muscular para as notas de CC.
CC | Descrição | Ilustração |
---|---|---|
\(1\) | OVELHA MUITO MAGRA: As apófises espinhosas formam uma superfície rugosas e proeminente. As vértebras lombares são facilmente perceptíveis ao toque da mão. Os dedos podem alcançar e localizar facilmente as apófises transversas. O perfil das apófises transversas é fácil de percecer. É possível identificar os espaços entre as apófises transversas. | |
\(2\) | OVELHA MAGRA: As apófises espinhosas e transversas são salientes. Os espaços entre as apófises transversas são palpáveis sem pressão. A linha da pele entre as apófises espinhosas e transversas é côncova. O músculo está coberto com uma ligeira camada de gordura subcutânea. Com ligeira pressão os dedos penetram por baixo das apófises transversas. | |
\(3\) | OVELHA REGULAR: As apófises espinhosas apenas são perceptíveis exercendo pressão com os dedos. O espaço do ângulo vertebral está cheio e a pele descreve uma linha recta entre os extremos das apófises espinhosas e transversas. Nota-se a presença de gordura subcutânea sobre o músculo. O perfil das apófises transversas não é perceptível sendo necessário exercer pressão elevada para sentir as extremidades. | |
\(4\) | OVELHA GORDA: As apófises espinhosas são dificilmente detectáveis à passagem com a mão, sendo necessário exercer uma pressão elevada para as detectar. A pele descreve uma linha convexa entre as extremidades das apófises espinhosas e transversas e o músculo encontra-se coberto por uma camada de gordura subcutânea facilmente perceptível. Os músculos do lombo formam uma zona chata, mas ainda estreita, na superfície superior das apófises espinhosas. É impossível detectar as apófises transversas, bem como colocar os dedos debaixo das mesmas. | |
\(5\) | OVELHA MUITO GORDA: A espessura da massa dos tecidos (músculo e gordura) é tão grande que as marcas de referência nas apófises transversas e espinhosas não são perceptíveis. Observa-se uma depressão na camada de gordura subcutânea na linha do dorso, onde se detectariam as apófises espinhosas. Os músculos são arredondados de cada um dos lados das apófises transversas. A zona à volta das apófises espinhosas é compacta, sendo relativamente larga no dorso. |
Recomendações técnicas
A avaliação da CC deve ser efectuada nos pontos chave do ciclo de produção (época de cobrição, final da gestação e final da lactação/amamentação), uma ve que habilita o produtor para fazer ajustes necessários ao maneio alimentar das ovelhas, de forma a maximizar a capacidade reprodutiva do rebanho e, desta forma, melhorar os resultados económicos da sua exploração.
A CC deve ser avaliada ao desmame dos cordeiros, no meio da gestação e imediatamente antes do parto e ajustar o maneio alimentar à nota de CC. Porém, num rebanho bem conduzido cerca de \(90\%\) das ovelhas apresentam condição corporal entre \(2,3\) e \(4,0\), pelo que é recomendável que a avaliação seja efectuada utilizando uma escala de \(0,5\) pontos ou, com avaliadores experientes, de um quarto de ponto (\(0,25\)).
É importante controlar a evolução da CC ao longo do ciclo de produção, para evitar que as ovelhas percam CC desnecessária uma vez que esta aumenta a inefieciência produtiva das ovelhas. De facto, é necessário fornecer pelo menos três vezes mais a energia perdida para que as ovelhas retornem à CC inicial. É, também, conveniente que o aumento que o ganho de CC se faça com recurso à utilização de pastagens e forragens e os alimentos concentrados, mais caros como os grãos de cereais por exemplo, devem usar-se sempre que se pretende evitar a perda de CC.
Na cobrição, as ovelhas com condição corporal inferior a \(3\) respondem melhor ao efeito do do que aquelas com CC superior. Na tabela seguinte apresentam-se as recomendações de CC para os pontos chave do ciclo de produção.
Tabela 1: Recomendações de CC para os pontos chave do ciclo de produção e maneio a adoptar um mês antes da época de cobrição em função da CC das ovelhas.
Fase do ciclo de produção | CC óptima |
---|---|
Época de cobrição | \(2,75-3,25\) |
Início-meio gestação | \(2,50-4,00\) |
Ao parto: simples | \(3,00-3,50\) |
Ao parto: duplo | \(3,50-4,00\) |
Ao desmame | \(\geq 2,00\) |
CC da ovelha | Maneio recomendado |
\(2,00-2,50\) | Flushing |
\(2,75-3,25\) | Aptas para a cobrição |
\(3,50-4,00\) | Restrição alimentar |